Manaus (AM) – A criminalidade é um problema social presente em muitas cidades brasileiras, e Manaus não está a parte desta realidade. Dentre as diversas formas de violência urbana, destaca-se o assalto à mão armada, frequentemente associado à ação de “dois homens em uma moto”, que representa uma ameaça direta à vida dos cidadãos e evidencia a vulnerabilidade da segurança pública no estado do Amazonas para coibir esta prática criminosa.
Dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) apontam que, em 2024, foram contabilizados 21.934 roubos a transeuntes, que ocorrem quando o cidadão é assaltado em via pública. Isso representa mais de 60 roubos a pessoas, por dia, no estado.
Celular como alvo
O celular é o item mais citado entre vítimas de roubos e furtos no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, destacou Manaus ocupou o primeiro lugar no ranking com o maior número de roubos e furtos de celulares no ano anterior. Em números concretos, Manaus liderou com 2.096 ocorrências, seguida de Teresina, com 1.866, e, fechando o top 3, vem a capital São Paulo, com 1.781.
Medo constante

Uma dessas vítimas foi a jornalista Emília Picanço, que sofreu um assalto à mão armada no bairro Parque Dez de Novembro, Zona Centro-Sul de Manaus.
“Eu estava saindo do meu treino de Muay Thai e falando com a minha mãe no telefone, andando por uma rua, quando dois homens armados chegaram em uma moto, apontaram a arma para mim e mandaram eu entregar o celular. Como não havia muito o que fazer, já que eles estavam armados, tive que entregar o celular”, relatou Emília.
De acordo com a especialista em Segurança Pública, Goreth Rubim, o uso de motocicletas na prática de crimes é uma estratégia adotada para facilitar a fuga rápida do local e dificultar o flagrante pelas autoridades.
“É comum que criminosos, ao praticarem o crime de roubo em áreas urbanas, utilizem motocicletas como instrumento para facilitar a fuga após o cometimento do crime e também dificultar a identificação do sujeito, pois, na maioria das vezes, estão com o rosto coberto pelo capacete“, pontuou a profissional.
Ser vítima de um assalto é um trauma que Emília carregará por um bom tempo, especialmente porque sua rotina foi profundamente alterada pelo medo de ar por essa experiência novamente.
“Eu só voltei andando para a academia. Lá, eles me ajudaram, me deram um copo de água e ligaram para os meus pais. Eles foram me buscar lá, mas foi horrível. Eu nem voltei mais para o Muay Thai depois disso, e eu gostava muito. Porém, como a rua é bem escura, fico pensando que poderia ter acontecido algo bem pior do que ‘só’ um assalto”, desabafou a jornalista.
Situação constrangedora

Por se tratar de um crime recorrente, é difícil traçar um perfil específico dos suspeitos, pois “qualquer pessoa” em uma motocicleta pode ser vista como potencial autora da ação.
“Infelizmente, não existe um perfil traçado para esse tipo de criminoso à luz da criminologia. O crime de roubo é difícil de conter, pois é um crime que já ocorre há muito tempo em nossa sociedade, e os órgãos de segurança pública, até a presente data, nunca conseguiram coibir, mesmo com uma penalidade mais elevada presente no Código Penal brasileiro”, enfatizou Goreth Rubim.
Essa situação foi vivida pelo repórter João Lucas, abordado por um suspeito trajando uniforme de mototaxista, em um estabelecimento comercial localizado no bairro Compensa, na Zona Oeste de Manaus.
“Fui assaltado na padaria. O cara era mototaxista e estava fardado. Eu juro que tinha R$1,00 e ele levou. Fui comprar pão para tomar café, cheguei à padaria e coloquei o meu R$1 no balcão. Ele chegou na moto e também pediu R$3 de pão. Depois, ele ficou ‘procurando’ dinheiro nos bolsos e não achou. Ele disse que ia até o amigo que estava esperando na moto pra pegar o dinheiro. Quando voltou, foi anunciando o assalto, pegando os pertences do atendente e veio na minha direção. Ele apontou a arma na minha testa, e, logo após a situação, ele nos trancou na salinha onde são assados os pães”, disse João Lucas.
As vítimas conseguiram sair do local por um buraco feito na estrutura da padaria.
Insegurança

Diante de tanta insegurança, a população de Manaus clama por medidas mais eficazes por parte das autoridades para reduzir os índices de roubo na cidade.
“Eu fiz o B.O. (boletim de ocorrência) no mesmo dia, online, mas como houve abordagem com arma, precisei ir à delegacia presencialmente para dar mais informações sobre a ocorrência. Fui ao DIP do Parque 10 e, depois, me disseram para ir até o RecuperaFone, para que eles também verificassem a situação. Fiquei esperando um retorno do RecuperaFone, mas até agora, nada”, afirmou a vítima Emília Picanço.
O programa citado pela jornalista é uma das estratégias do Governo do Amazonas para devolver os aparelhos celulares às vítimas de roubos e furtos.
o lançamento do programa, em setembro de 2024, até o início da terceira entrega, ocorrida no início de abril, o RecuperaFone realizou a restituição de 1.850 aparelhos aos proprietários, de um total de 4 mil celulares recuperados.
“Estamos desmontando uma cadeia do crime. Isso é muito importante e nós vamos continuar avançando. Precisamos da ajuda da sociedade. Sempre que possível, denuncie no 181 e, juntos, com a sociedade civil organizada, a população, as polícias Militar e Civil, o sistema de segurança, vamos mudar, como já estamos mudando, a realidade da segurança pública do nosso estado”, afirmou o secretário de Estado de Segurança Pública, coronel Vinicius Almeida.
Para Goreth Rubim, ainda faltam estratégias para coibir a criminalidade e dar mais segurança às famílias amazonenses.
“Investir em policiamento nas ruas e em câmeras de segurança, principalmente em locais onde existem áreas de comércio e residências bastante afetadas pela prática de crimes contra o patrimônio”, finalizou a especialista.
De acordo com o Governo do Amazonas, desde 2019, já foram investidos cerca de R$ 1,16 bilhão em segurança pública no estado.
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