Uma urna funerária contendo restos mortais foi encontrada no início de maio na Comunidade Massarabi, localizada no município de Santa Isabel do Rio Negro, no interior do Amazonas. O achado ganhou destaque após ser divulgado nas redes sociais, o que motivou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a abrir um processo para acompanhar o caso.
Em entrevista ao Em Tempo, o cacique da comunidade, Sidnei da Silva, contou que o artefato histórico foi descoberto durante uma escavação para a instalação de uma tubulação de água. Segundo ele, não é a primeira vez que vestígios semelhantes são encontrados na região.
“Primeiro, quando chove muito, dá enxurrada, as urnas sempre aparecem, a água começa a escorrer e as urnas ficam aparecendo. […] Alguns meses atrás, íamos colocar um banco atrás da igreja, com uma boca de lobo, estávamos cavando, de repente a boca de lobo caiu num lugar vazio. O menino que estava cavando falou ‘Opa, achamos ouro, achamos pote’. Nesse momento, ele tirou a boca de lobo do chão, meteu a mão, ele disse, é um pote. E quando ele tirou a mão, na mão dele veio um pedaço de osso. Outra pessoa falou para ele, ‘deixe o osso no lugar’ e novamente enterramos o buraco e ficou lá. A última urna foi encontrada através de uma escavação, fazendo uma encanação de água. E essa urna foi retirada”, contou o representante da comunidade.
Por considerar a descoberta algo comum, Sidnei comentou sobre o achado com o técnico em telecomunicações Vanecildo Felizardo. Ao examinar o artefato, Vanecildo recomendou que fossem feitos registros adequados do material e que ele fosse encaminhado às autoridades competentes.
“Eles não sabiam muito bem o que realmente eram aquelas coisas que aparecem em várias escavações, então falei com eles que aquilo eram urnas funerárias e precisavam ser estudadas e catalogadas, ter uma investigação, saber qual povo morou ali e quem eram os anteados deles, e eles ficaram maravilhados e querendo saber também do ado que está ali enterrado”, disse.
O que é uma urna funerária?

Segundo o arqueólogo e pesquisador Nogueira Almeida, a urna funerária trata-se de um recipiente cerâmico, muitas vezes decorado, usado para conter restos humanos, comum nas fases da Tradição Polícroma e Paredão, entre outras. Os tamanhos são variáveis, dependendo do grupo étnico e de suas características. Os sepultamentos em urnas funerárias eram assim classificados:
- Sepultamento primário: O corpo é enterrado logo após a morte, sem remoção posterior, geralmente dentro de artefatos cerâmicos de médio a grande porte (urnas funerárias), de acordo com as tradições culturais de cada grupo étnico.
- Sepultamento secundário: Os restos mortais são removidos após a decomposição e enterrados novamente em urnas funerárias e/ou, tendo o corpo sido cremado, os vestígios ósseos são depositados em urnas funerárias, conforme as tradições culturais de cada grupo étnico.
Povos originários

Esta não é a primeira vez que urnas funerárias são encontradas na Amazônia. Nogueira Almeida destaca que o costume de enterrar os mortos em urnas revela a riqueza e a diversidade cultural dos povos originários da região no ado.
“É bastante comum em nossa Região Amazônica, visto que, a Amazônia até o período do contato com europeu, foi densamente povoada e, segundo o Arqueólogo Professor Doutor Eduardo Góes Neves, existiam aproximadamente entre 8 à 10 milhões de pessoas nativas morando na floresta, corroborando com a expressiva quantidade de material arqueológico encontrado, principalmente a Terra Preta de Índio. O hábito de enterrar os seus mortos em artefatos cerâmicos com características diferentes, mostra claramente a diversidade cultural dos povos originários“, pontua o profissional.
Segundo Nogueira, os achados arqueológicos representam vestígios de civilizações e culturas pretéritas que habitaram diversas áreas da Região Amazônica e do Brasil antes da chamada “descoberta”.
Ainda segundo o profissional, a descoberta de urnas funerárias dá início a um processo técnico que deve ser seguido após o achado.
“Após o resgate do artefato arqueológico, o material é encaminhado para a Reserva Técnica de uma instituição devidamente autorizada pelo IPHAN, para sua guarda, podendo ainda ar pelo processo de limpeza, classificação, catalogação e posterior exposição, em museus devidamente credenciados e autorizados para tal”, explicou.
Ao reunir todos os vestígios, Vanecildo Felizardo produziu um relatório e o encaminhou ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN/AM.
Ao Em Tempo, o Iphan afirmou que, por meio de sua Superintendência no Amazonas, tomou conhecimento da publicação sobre o encontro de uma possível urna funerária na Comunidade Massarabi, localizada no município de Santa Isabel do Rio Negro (AM), por meio de uma postagem na rede social Facebook, posteriormente encaminhada por e-mail.
Em razão da relevância do fato, foi instaurado um processo, que será acompanhado pela equipe técnica, em conformidade com a legislação vigente e em contato com a comunidade.
Arqueologia no Amazonas

O Departamento de Arqueologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) é responsável por grande parte dos estudos e da catalogação de achados históricos na região amazônica.
Um dos artefatos encontrados foi a Urna Funerária da Fase Guarita. Ela foi resgatada em 2012, no município de Itacoatiara (AM), durante a construção do porto fluvial da Hermasa. Atualmente, está em exposição no Laboratório de Arqueologia da UFAM.


Já os apliques com características zoomorfas e antropomorfas foram encontrados por uma pessoa que mora no interior do estado. Ao escavar uma fossa em seu quintal, ela se deparou com diversos materiais arqueológicos.
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