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Dignidade

Educação no interior: entre o abandono e o escárnio

Poder público precisa sair do discurso e entrar nas escolas.

Foto: Jason Gillman/Pixabay

Itamarati virou símbolo de um escândalo. Em pleno 2025, 12 escolas municipais — oito delas em comunidades indígenas — funcionam sem água potável, saneamento ou banheiros. O Ministério Público precisou intervir para exigir o mínimo. E, mesmo assim, a resposta da prefeitura segue no como da lentidão que há décadas marca a gestão da educação no interior do Amazonas.

Mas Itamarati não é exceção. É só a ponta de um mundo invisível. Existem centenas de escolas na mesma situação em municípios amazonenses, onde o ensino é empurrado com a barriga e as crianças são forçadas a aprender em condições desumanas. É uma tragédia normalizada pelo poder público.

Escola sem banheiro é escola sem dignidade. Água imprópria é violação ao direito à saúde. Criança estudando nessas condições não é atraso — é um país que falha em sua obrigação mais elementar. Pior: com a frieza de quem já se acostumou.

Educação com qualidade, na Amazônia profunda, segue à margem das políticas públicas. Quando aparecem, vêm em forma de promessas genéricas, sem continuidade, sem execução. A distância geográfica virou desculpa.

Enquanto gestores posam em eventos e acumulam prêmios por programas de impacto duvidoso, o chão da escola segue seco, rachado e sujo. E o que deveria ser um espaço de futuro é o retrato do abandono.

Não há como falar em qualidade do ensino sem o básico: água limpa, banheiro decente, sala arejada, merenda saudável. E isso não é luxo. É o mínimo garantido por lei — que continua sendo ignorado nas calhas dos rios, nos igarapés e nos becos das comunidades mais isoladas.

O poder público precisa sair do discurso e entrar nas escolas. O governo federal precisa sair do marketing e garantir prioridade absoluta à educação ribeirinha e indígena. E as prefeituras, que têm o dever constitucional de cuidar da educação básica, precisam parar de agir como se invisibilidade fosse isenção de responsabilidade.

A Amazônia não precisa de discursos poéticos. A floresta precisa estar de pé, mas os amazônidas de dignidade.

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