Após seis anos de estudos, sete urnas funerárias da Tradição Polícroma da Amazônia retornaram ao município de Tefé (AM), sua terra natal. O transporte, realizado por via fluvial, percorreu mais de 1.200 km e envolveu cuidados especiais para preservar os artefatos arqueológicos.
“Esse é um momento muito importante e esperado por todos nós, tanto os pesquisadores quanto os moradores de Tauary”, afirma Eduardo Kazuo Tamanaha, arqueólogo e líder do Grupo de Pesquisa Arqueologia e Gestão do Patrimônio Cultural da Amazônia do Instituto Mamirauá. “A pandemia, cortes de gastos e secas extremas dificultaram o andamento dos trabalhos e o retorno das urnas para Tefé. Por outro lado, a equipe coordenada pela professora Dra. Anne Rapp Py-Daniel teve mais tempo para analisar o material e trazer resultados impressionantes”
Descoberta inédita fortalece laços entre ciência e comunidade
Em 2018, arqueólogos do Instituto Mamirauá e parceiros escavaram as urnas na comunidade de Tauary, na Floresta Nacional de Tefé. Diferentemente de achados anteriores, essas urnas foram encontradas no solo, preservando seu contexto original. Decoradas com rostos e símbolos, elas revelam práticas funerárias complexas e de grande cuidado.
Avanços tecnológicos ampliam compreensão dos rituais funerários
Pesquisas lideradas pela arqueóloga Anne Rapp Py-Daniel, da UFOPA, utilizaram tomografia computadorizada para analisar as urnas sem danificá-las. Essa técnica inovadora permitiu identificar vestígios humanos e avaliar o estado de conservação dos artefatos, contribuindo para protocolos mais seguros de escavação e conservação.
“Essas urnas não são apenas objetos frágeis, elas são o equivalente a caixões. Carregam um valor simbólico e ético muito forte. Por isso, toda intervenção precisa ser muito bem pensada e executada com o máximo de cuidado”, explica Anne Rapp Py-Daniel.
Comunidade local participa ativamente da preservação cultural
Os moradores de Tauary acompanharam todo o processo de escavação e solicitaram apoio técnico ao perceberem os vestígios. Em maio, uma equipe do Instituto Mamirauá e da UFOPA retornou à comunidade para apresentar os resultados das pesquisas, incluindo atividades educativas e o reconhecimento do sítio arqueológico.
Parcerias institucionais fortalecem a ciência na Amazônia
O sucesso das pesquisas envolvendo as urnas de Tauary é fruto de uma sólida rede de cooperação entre instituições da região Norte. A arqueóloga Anne Rapp Py-Daniel destaca o papel essencial das parcerias para a continuidade de trabalhos científicos fora dos grandes centros urbanos.
“Temos parcerias com o Instituto Mamirauá há 14 anos, trabalhando de maneira colaborativa. Isso é super importante para as instituições da região Norte. Muitas vezes, não temos os recursos, as pessoas, ou a proximidade com grandes centros. Por isso, precisamos dessas redes reais, duradouras, que sustentam as pesquisas e mantêm os acervos vivos ao longo do tempo”, destaca a pesquisadora.
Pesquisa revela redes de contato milenares na Amazônia
Após o retorno a Tefé, as urnas aram a integrar o acervo do Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá, onde continuarão os processos de análise e conservação. A descoberta reforça evidências de que a Amazônia pré-colonial era densamente povoada e culturalmente complexa, contrariando a visão de um território intocado ou esparsamente habitado.
(*) Com informações da assessoria
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