Em um mundo cada vez mais movido por tecnologia, as terras raras têm se destacado como um recurso estratégico fundamental. Embora o nome sugira escassez, esses elementos são relativamente abundantes na crosta terrestre, mas raramente encontrados em concentrações economicamente exploráveis. Compostas por 17 elementos químicos, as terras raras são insubstituíveis na fabricação de uma variedade de produtos de alta tecnologia.
A importância desses elementos está diretamente relacionada às suas propriedades físico-químicas únicas. Eles são essenciais para a produção de ímãs permanentes, baterias recarregáveis, turbinas eólicas, painéis solares, lasers, sistemas de orientação de mísseis e até mesmo smartphones. Dessa forma, as terras raras se tornaram indispensáveis não só para a economia moderna, mas também para a segurança nacional de muitas nações.
Apesar de seu nome, as terras raras podem ser encontradas em diversos pontos do planeta. Depósitos significativos existem na China, Estados Unidos, Brasil, Austrália, Índia, Rússia, Vietnã, Ucrânia e outros países. No entanto, a exploração desses minerais é complexa e ambientalmente desafiadora, o que torna a produção concentrada em poucos lugares.
A China, nesse cenário, é a grande protagonista. Desde a década de 1990, o país adotou uma política estratégica de domínio sobre a cadeia produtiva de terras raras, desde a mineração até o refino e a manufatura de produtos de alto valor agregado. Hoje, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a China é responsável por mais de 60% da produção mundial e por cerca de 90% do processamento desses elementos.
O domínio chinês não é apenas quantitativo. A China desenvolveu expertise tecnológica e uma cadeia de suprimentos integrada, tornando-se praticamente insubstituível nesse setor. Muitos países, mesmo que possuam reservas, ainda dependem das capacidades chinesas de processamento, o que gera preocupações quanto à segurança e dependência tecnológica.
Os Estados Unidos, embora tenham sido pioneiros na exploração de terras raras, perderam espaço ao longo das últimas décadas. A mina de Mountain , na Califórnia, chegou a ser a principal fonte mundial desses elementos, mas foi fechada nos anos 2000 devido a questões ambientais e econômicas. Recentemente, os EUA têm tentado reverter esse quadro. Reabriram a mina e estão buscando parcerias internacionais, como é o caso do acordo assinado entre Estados Unidos e Ucrânia no dia 30 de abril de 2025.
Essa dependência gerou tensões geopolíticas, especialmente em momentos de conflito comercial entre Washington e Pequim. A ameaça chinesa de restringir a exportação de terras raras como resposta a sanções americanas reacendeu o alerta sobre a vulnerabilidade das cadeias produtivas ocidentais.
Nesse contexto, o Brasil aparece como um potencial player global. O país possui uma das maiores reservas de terras raras do mundo, principalmente nos estados de Minas Gerais, Goiás e Amazonas. Entretanto, a exploração ainda é incipiente, limitada por falta de investimentos, infraestrutura e políticas públicas consistentes.
O potencial brasileiro é estratégico, não apenas pelo volume de reservas, mas também pela diversidade mineralógica e pela possibilidade de associar a extração a práticas mais sustentáveis. Se bem gerido, o Brasil poderia se tornar um fornecedor confiável para países que buscam reduzir sua dependência da China.
Contudo, o país enfrenta desafios significativos. A ausência de uma cadeia completa de processamento e a dependência de tecnologias estrangeiras limitam o valor agregado da produção nacional. Além disso, questões ambientais e sociais relacionadas à mineração precisam ser cuidadosamente abordadas para garantir que o desenvolvimento seja sustentável.
O avanço brasileiro nesse setor exige planejamento de longo prazo. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento, parcerias com centros de excelência internacionais e a formação de mão de obra especializada são fundamentais. Sem isso, o país corre o risco de continuar sendo apenas um exportador de matéria-prima bruta.
A geopolítica das terras raras mostra que esses elementos não são apenas uma questão de mineração, mas de soberania tecnológica. Quem controla sua produção, refino e aplicação, controla setores-chave da economia do século XXI. Por isso, a disputa por terras raras vai além da economia, envolvendo também estratégias militares e políticas externas.
A emergência de uma nova ordem tecnológica global, com a transição energética, a inteligência artificial e a militarização do espaço, só reforça a centralidade das terras raras. Os países que não se posicionarem estrategicamente correm o risco de ficar à margem dessa transformação.
Dessa forma, é essencial que países como Brasil e EUA desenvolvam políticas industriais que combinem segurança nacional, sustentabilidade ambiental e competitividade econômica. O desafio está em equilibrar esses três eixos em um cenário global de competição acirrada.
As terras raras são mais do que minerais: são peças-chave na disputa por poder no século XXI. Quem entender sua importância e agir estrategicamente poderá garantir não apenas crescimento econômico, mas também autonomia tecnológica e relevância geopolítica. O futuro depende, em grande parte, do que cada país fará com o que jaz sob seus pés.
Farid Mendonça Júnior
Economista, advogado, e Assessor Parlamentar no Senado Federal

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