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Deputados do Amazonas gastam mais de R$ 3,3 milhões do Cotão no 1º trimestre de 2025 

Combustível consumiu quase R$ 330 mil; alguns parlamentares zeraram esse gasto

Foto: Matheus Rodrigues / Aleam

Os 24 deputados da Assembelia Legislativa do Amazonas (Aleam) registraram um gasto total de R$ 3.351.284,52 durante o primeiro trimestre de 2025, utilizando a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP), conhecida como “Cotão”. Os dados estão disponíveis no sistema de Controle de Cota Parlamentar da Aleam e englobam os meses de janeiro, fevereiro e março, revelando o perfil de despesas dos parlamentares.

Desse montante expressivo, R$ 329.069,70 foram destinados especificamente para despesas com combustível e lubrificantes, destacando entre os principais gastos entre os parlamentares.

Com o Cotão estadual fixado em R$ 49.849,65 por mês, os deputados estaduais do Amazonas têm um teto de gastos de R$ 149.548,95 nesses três meses.

Os maiores gastadores do Cotão

No topo da lista de gastos com a Cota Parlamentar no primeiro trimestre de 2025 está o deputado Dr. George Lins (União), que utilizou R$ 149.540,00 — praticamente o trimestral permitido. Em seguida, aparece Cristiano D’Angelo (MDB), com R$ 149.469,60, e em terceiro lugar, Mário César Filho (União), que gastou R$ 149.356,12 no período. Os três foram os parlamentares que mais consumiram os recursos disponíveis da chamada “cotão”.

Entre os gastos do deputado Dr. George Lins em janeiro de 2025, destaca-se o valor de R$ 17.400,00 destinado à contratação de serviços de consultoria e assessoria de comunicação. O serviço foi prestado pela empresa H T M Multimídia Serviços de Comunicação Digital Ltda (CNPJ: 32.817.070/0001-23). Os mesmos valores foram registrados nos meses de fevereiro e março, totalizando R$ 52.200,00 com assessoria de comunicação no primeiro trimestre.

Cristiano D’Angelo também teve como principal despesa a produção de materiais gráficos para divulgação de sua atividade parlamentar. Os gastos com a L A Serviços istrativos Ltda (CNPJ: 49.868.174/0001-60) somaram R$ 60.500,10.

Em janeiro, foram pagos R$ 16.500,00. Já em fevereiro, os valores chegaram a R$ 22.009,00, e em março, a R$ 21.991,10.

Mário César Filho teve o maior gasto direcionado à produção de materiais gráficos de divulgação de sua atividade parlamentar — como folders, banners e outdoors.

Em janeiro, o deputado empenhou R$ 17.000,00 com a empresa W.A.B. de Almeida Ltda. Já em fevereiro e março, os gastos foram realizados com a empresa Emylli Thalya Ferreira de Oliveira Ltda, totalizando R$ 22.000,80 em cada um dos meses. Ao todo, o parlamentar destinou R$ 61.001,60 para esse tipo de serviço no primeiro trimestre.

Interessante notar que o quarto colocado, Abdala Fraxe, teve uma variação significativa nos gastos entre os meses, com um pico de R$ 73.480,07 em fevereiro, o que chama atenção pela disparidade em relação a outros meses.

Confira a lista completa dos gastos totais por deputado, em ordem decrescente:

PosiçãoDeputadoJaneiro (R$)Fevereiro (R$)Março (R$)Total em 3 meses (R$)
1Dr. George Lins (União)R$ 49.800,00R$ 49.850,00R$ 49.890,00R$ 149.540,00
2Cristiano D’Angelo (MDB) R$ 49.548,00R$ 50.027,00R$ 49.894,60R$ 149.469,60
3Mário César Filho (União)R$ 46.506,30R$ 51.721,82R$ 51.128,00R$ 149.356,12
4Abdala FraxeR$ 25.260,53R$ 73.480,07R$ 50.489,94R$ 149.230,54
5Adjuto Afonso (União)R$ 49.846,87R$ 49.072,45R$ 50.268,82R$ 149.188,14
6Joana Darc (União)R$ 49.500,00R$ 50.080,00R$ 49.500,00R$ 149.080,00
7Thiago Abrahim (União)R$ 49.440,00R$ 48.439,00R$ 51.000,00R$ 148.879,00
8Daniel Almeida (AVANTE)R$ 49.720,01R$ 49.770,02R$ 47.504,31R$ 146.994,34
9Roberto Cidade (União)R$ 44.114,55R$ 45.075,23R$ 57.413,37R$ 146.603,15
10Cabo Maciel (PL)R$ 49.485,04R$ 48.800,00R$ 48.000,00R$ 146.285,04
11Rozenha (PMB)R$ 47.000,00R$ 49.500,00R$ 49.000,00R$ 145.500,00
12Delegado Péricles (PL)R$ 38.204,60R$ 57.287,11R$ 49.651,81R$ 145.143,52
13Wanderley Monteiro (Avante) R$ 47.580,00R$ 47.542,00R$ 47.561,00R$ 142.683,00
14Comandante Dan (Podemos)R$ 40.105,55R$ 49.795,00R$ 52.590,00R$ 142.490,55
15João Luiz (Republicanos)R$ 40.452,0042.521,5057.476,62R$ 140.450,12
16Dr. Gomes (Podemos)R$ 49.174,5550.524,7540.506,00R$ 140.205,30
17Felipe Souza (PRD)R$ 41.800,00R$ 49.000,00R$ 49.000,00R$ 139.800,00
18Débora Menezes (PL)R$ 32.150,00R$ 54.540,00R$ 49.840,00R$ 136.530,00
19Carlinhos Bessa (PV)R$ 48.587,01R$ 41.145,03R$ 44.628,21R$ 134.360,25
20Alessandra Campêlo (Podemos)R$ 43.534,99R$ 33.127,24R$ 47.578,25R$ 124.240,48
21Mayra Dias (Avante) R$ 48.000,00R$ 42.900,04R$ 30.800,33R$ 121.700,37
22Sinésio Campos (PT)R$ 49.500,00R$ 20.000,00R$ 49.555,00R$ 119.055,00
23Wilker Barreto (PMN)R$ 24.000,00R$ 65.000,00R$ 30.000,00R$ 119.000,00
24Dra. Mayara Pinheiro (Republicanos)R$ 47.500,00R$ 34.000,00R$ 34.000,00R$ 115.500,00

Regras e fiscalização

Com teto mensal de R$ 49.849,65, cada deputado pode gastar até R$ 149.548,95 por trimestre com a CEAP. Os valores cobrem despesas como agens, combustível, aluguel de escritórios, divulgação parlamentar, consultorias, entre outros.

Os deputados do Amazonas poderão gastar até R$ 12,4 milhões ao longo de 2025. A resolução autoriza que os assessores parlamentares também utilizem recursos da CEAP para despesas com agens aéreas, terrestres e fluviais, desde que essas viagens estejam devidamente justificadas e relacionadas às atividades do gabinete em que estão lotados. Também am a ser permitidos gastos com alimentação, hospedagem e locação de bens ou serviços, desde que ligados à atuação parlamentar.

Combustível: Uma despesa marcante

Os gastos com combustível e lubrificantes se destacaram como uma categoria relevante nas despesas dos deputados. Dr. George Lins também liderou essa lista, com R$ 28.000,00 direcionados para abastecimento. Seguido por Adjuto Afonso com R$ 26.000,00 e Wanderley Monteiro com R$ 23.973,00. Curiosamente, alguns parlamentares como Joana Darc, Rozenha e Wilker Barreto não registraram gastos com combustível neste período.

O valor total gasto por todos os deputados com combustível/lubrificante nos três meses (janeiro, fevereiro e março) é de R$ 329.069,70.

Abaixo, os gastos detalhados com combustível/lubrificante, em ordem decrescente:

PosiçãoDeputadoGastos com Combustível/Lubrificante (R$)
1Dr. George LinsR$ 28.000,00
2Adjuto AfonsoR$ 26.000,00
3Wanderley MonteiroR$ 23.973,00
4Carlinhos BessaR$ 23.774,25
5Sinésio CamposR$ 23.500,00
6Daniel AlmeidaR$ 23.334,34
7Débora MenezesR$ 21.530,00
8Abdala FraxeR$ 20.950,54
9Roberto CidadeR$ 20.603,15
10Mayra DiasR$ 16.000,37
11Dr. GomesR$ 15.961,10
12João LuizR$ 14.896,63
13Cristiano D’AngeloR$ 14.400,00
14Alessandra CampêloR$ 11.030,48
15Felipe SouzaR$ 8.000,00
16Cabo MacielR$ 7.985,04
17Delegado PériclesR$ 7.979,60
18Mário César FilhoR$ 7.657,20
19Dra. Mayara PinheiroR$ 6.500,00
20Thiago AbrahimR$ 6.000,00
21Comandante DanR$ 1.000,00
22Joana DarcR$ 0,00
23RozenhaR$ 0,00
24Wilker BarretoR$ 0,00

Excesso de regalias e baixa qualidade legislativa

O cientista político Helso Ribeiro avalia que o Cotão, é uma verba expressiva e de uso bastante amplo, o que exige maior atenção por parte da sociedade e da imprensa quanto à sua aplicação.

Ribeiro destaca que o valor elevado da cota, somado aos demais benefícios parlamentares, exige controle social mais efetivo. Para ele, o trabalho da imprensa é essencial nesse processo, já que tem o papel de investigar e informar à população como esses recursos estão sendo utilizados. “Às vezes dá até para dar a volta ao mundo só com o que se declara como gasto com combustível”, comparou, ao criticar o uso excessivo da verba para despesas como gasolina e aluguel de veículos.

O cientista político também lembrou que os parlamentares devem apresentar planilhas com a prestação de contas, mas reforçou que cabe ao cidadão fiscalizar e verificar se os gastos correspondem à realidade. Ele considera importante que a população tenha ciência de que, ao eleger um deputado estadual, este terá o a uma série de benefícios que integram o exercício do mandato — entre eles, a CEAP.

A transparência na utilização desses recursos é fundamental para a fiscalização da população e o controle social dos gastos públicos. O acompanhamento desses dados permite uma visão clara de como os recursos estão sendo empregados e reforça a importância da fiscalização contínua por parte da sociedade civil.

Para o cientista político Carlos Santiago, os problemas enfrentados pela Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam) vão além dos privilégios e benefícios concedidos aos parlamentares.

Segundo ele, além dos altos subsídios, da verba de gabinete para contratação de assessores e dos recursos destinados ao custeio de escritórios, divulgação, aluguel de veículos e combustíveis, há uma preocupação ainda mais grave: a baixa qualidade da produção legislativa.

“O problema na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas não é somente os privilégios. Mas também, está relacionado à qualidade legislativa. A atual legislatura da Aleam está muito aquém das necessidades da população. Extremamente governista, sem o de apontar, de questionar, de fiscalizar a istração pública”.

Outro ponto criticado por Santiago é a falta de transparência. Segundo ele, a atual Mesa Diretora ainda não publicou uma resolução que estabeleça com clareza os horários das sessões ordinárias nem as pautas que serão apreciadas, dificultando o acompanhamento por parte da sociedade.

“Além do mais, a Assembleia Legislativa tem dado péssimos exemplos nos últimos anos. O mais recente é que diminuiu os dias de sessões ordinárias de três para dois dias na semana e a atual mesa diretora ainda não publicou uma resolução para estabelecer de forma clara e transparente os horários das sessões legislativas ordinárias, bem como as pautas que serão votadas para que a sociedade acompanhe até porque quem paga tudo isso é o contribuinte é o cidadão”, avaliou o cientista político.

“Então o o problema da assembleia não está só relacionado às regalias, as despesas exorbitantes do Cotão, mas também a qualidade legislativa. É preciso que em 2026 a sociedade fique atenta com relação a isso e busca melhorar não só a qualidade da política com seu voto, mas também dos políticos”, completou.

Resposta

A equipe de reportagem tentou contato com os deputados Dr. George Lins (União) e Cristiano D’Angelo (MDB) para esclarecer os gastos apresentados, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.

O deputado estadual Mario Cesar Filho (União Brasil), que foi o terceiro parlamentar que mais gastou com a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP) nos primeiros três meses de 2025 — R$ 149.356,12, quase o limite permitido de R$ 149.548,95 — afirmou que os valores estão dentro da legalidade e refletem o ritmo intenso de trabalho de seu mandato.

“Em resposta ao Em Tempo, esclareço que os gastos do nosso mandato com a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP) estão absolutamente dentro da legalidade e refletem o ritmo intenso de trabalho que temos mantido.

Nossa atuação é permanente, tanto na capital quanto no interior do estado, com agendas que exigem deslocamentos, equipe e estrutura. Esse é o tipo de presença ativa que a população espera, e é justamente para isso que a cota existe.

Vale destacar que estamos entre os três deputados mais produtivos da Assembleia Legislativa nesta legislatura, ao longo dos dois primeiros anos de mandato. Trabalhar com seriedade, compromisso e resultado gera custos, mas sobretudo, gera entregas concretas à sociedade.

Seguimos firmes em um mandato transparente, responsável e próximo das pessoas”.

Leia mais: Deputados do Amazonas utilizam quase R$ 1 milhão do ‘Cotão’

M.E

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