Neste 25 de maio, quando o Brasil celebra o Dia da Indústria, um alerta parte do coração da Amazônia: como homenagear a força produtiva nacional se a política industrial ainda penaliza quem inova, emprega e protege o meio ambiente? A data, que deveria ser um símbolo de orgulho e compromisso com o futuro do país, expõe uma das maiores contradições da política econômica brasileira.
Enquanto o mundo investe em competitividade e eficiência energética, o setor de ar-condicionado da Zona Franca de Manaus (ZFM) — o segundo maior polo mundial de produção desses equipamentos — vive um processo de asfixia provocado por uma política industrial desatualizada e contraditória.
O monopólio que ameaça o progresso
A mais recente reunião do Conselho de istração da Suframa (CAS) jogou luz sobre uma distorção que atravanca um dos segmentos mais robustos da indústria amazônica: a exigência de adquirir, obrigatoriamente, compressores de um único fornecedor nacional, com tecnologia ultraada e capacidade de entrega insuficiente.
Essa regra, sustentada por um Processo Produtivo Básico (PPB) que já não dialoga com as realidades do mercado, transformou-se num instrumento de reserva de mercado que sufoca a produção, inibe a inovação e ameaça mais de 15 mil empregos diretos e indiretos.
Uma indústria refém do atraso
A situação é ainda mais paradoxal quando se observa o impacto positivo que essa indústria gera: investimentos superiores a R$ 9 bilhões na região Norte, cadeia produtiva legalizada, pagamento de impostos, compromisso socioambiental e geração de valor real para o país.
Empresas que se instalaram na Amazônia por acreditar em um modelo de desenvolvimento sustentável — que combina floresta em pé, urbanização qualificada e indústria limpa — estão sendo punidas por cumprir a lei, por inovar e por gerar oportunidades.
O componente obrigatório, além de escasso, não atende às exigências mais avançadas de desempenho energético, o que dificulta o cumprimento de metas ambientais e impede a adoção de novas tecnologias. Em um mercado que deve atingir 6,5 milhões de unidades produzidas em 2025, essa limitação não é apenas um problema técnico — é um entrave estratégico.
Quem se beneficia do atraso?
A pergunta que ecoa nos corredores da indústria, nas entidades de classe e nas instituições públicas comprometidas com a modernização do Brasil é simples e direta: quem se beneficia da manutenção desse monopólio improdutivo?
Certamente não é o consumidor, que paga mais caro por produtos menos eficientes. Nem o trabalhador, que vê seu emprego ameaçado por gargalos artificiais. Tampouco é a floresta, cuja proteção depende de uma economia forte, formal e sustentável.
A Zona Franca de Manaus não é um privilégio: é um projeto de país
Um pacto entre Estado e sociedade para desenvolver uma região estratégica sem repetir os erros da destruição ambiental. A reserva de mercado imposta ao setor de ar-condicionado representa o oposto desse pacto: um privilégio que bloqueia o progresso, desestimula investimentos e compromete a credibilidade nacional.
Modernizar para proteger
Não se trata de negar a importância do conteúdo local. Ao contrário: trata-se de exigir que ele seja qualificado, competitivo e capaz de acompanhar as transformações globais.
A defesa de uma indústria inovadora e sustentável precisa andar de mãos dadas com o fim de proteções artificiais que travam o desenvolvimento.
Neste Dia da Indústria, o Brasil tem a chance de fazer uma escolha histórica: permanecer preso à burocracia que protege a ineficiência ou abraçar um futuro onde a indústria seja aliada da floresta, da tecnologia e da justiça social.
A Industria da Zona Franca de Manaus mostra, todos os dias, que é possível produzir com respeito ao meio ambiente, gerar emprego com dignidade e inovar com responsabilidade. Mas para seguir adiante, precisa de liberdade para competir, criar e liderar.

(*) Nelson Azevedo é economista, empresário, conselheiro da CNI, do CIEAM e vice-presidente da FIEAM e dirigente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus SIMMMEM
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