A decisão do governo brasileiro de abandonar a criação da Autoridade Climática, conforme revelado pelo Valor Econômico em 2 de junho, não é apenas mais um capítulo de desavenças políticas ou limitações orçamentárias.
Trata-se de um golpe direto na capacidade do país de proteger a Amazônia em um momento em que a floresta enfrenta ameaças sem precedentes — do avanço do crime organizado ao agravamento das mudanças climáticas.
Anunciada em setembro de 2024 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra Marina Silva, a Autoridade Climática surgia como uma resposta urgente à crise ambiental.
O objetivo era coordenar ações federais contra as mudanças climáticas, antecipar desastres como secas e enchentes (como a histórica seca de 2023-2024) e fortalecer o Brasil em negociações internacionais, especialmente na COP30, marcada para acontecer em Belém em novembro deste ano.
Era uma tentativa de dar estrutura e seriedade à política ambiental brasileira, que, apesar dos discursos de Lula, ainda patina na implementação de medidas efetivas. Mas, como tantas outras iniciativas, sucumbiu a divergências políticas, falta de priorização orçamentária e disputas burocráticas.
Fracasso do projeto
Sem uma entidade centralizada para monitorar, planejar e executar ações climáticas, o Brasil perde capacidade de reagir a emergências ambientais. Na Amazônia, onde o crime organizado avança sobre terras indígenas e unidades de conservação, a ausência de uma governança climática robusta significa mais impunidade e menos controle.
O desmatamento, muitas vezes ligado ao narcotráfico, garimpo ilegal e grilagem, já não enfrenta fiscalização suficiente. Agora, sem um órgão que integre inteligência climática e segurança ambiental, a tendência é que a violência e a degradação se intensifiquem. Relatórios do Inpe e do IPCC já alertam que, sem políticas coordenadas, a Amazônia pode atingir um ponto de não retorno em sua capacidade de regeneração. O climatologista Carlos Nobre voltou a alertar sobre isso em artigo no site UOL.
A COP30, que deveria ser o palco para o Brasil reassumir a liderança ambiental global, agora corre o risco de se tornar um emblema de promessas não cumpridas. Como o país pode exigir financiamento internacional para preservação sem demonstrar capacidade interna de gestão?
A decisão de enterrar a Autoridade Climática enfraquece a posição brasileira em negociações climáticas e mina a confiança de investidores e parceiros globais. Enquanto nações como Colômbia e Indonésia avançam em estruturas de governança climática, o Brasil retrocede, justo quando a Amazônia mais precisa.
Floresta sob risco
O adiamento da Autoridade Climática é mais que um fracasso istrativo. Se o governo debate folcloricamente orçamentos e estruturas, a Amazônia queima, comunidades sofrem com secas e enchentes, e o crime organizado consolida seu domínio.
Se o Brasil quer realmente evitar o colapso da maior floresta tropical do mundo, não pode adiar decisões cruciais. É hora de rever prioridades e agir antes que a conta climática e humana seja impossível de pagar. É tudo ou nada. Pelo visto, o país está mais perto do nada.

¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)
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